terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tortura

Quanto toda
linguagem
virar fóssil
que soltem os fogos de artifício

eu ainda sei seu nome
eu ainda danço no seu ritmo

Você há de ver
no meu corpo nu a tua fome
e eu, deslizando
meus dedos
em seus cabelos,
ainda reconhecerei o meu
amor.

Ainda se for feito
do pedido uma morte lenta
como os segredos
que eu nunca te contei
mesmo assim,
do teu peito resplandecerá
o dia em que te conheci.

Eu sei que você viu
o tempo virar água
quando da minha tortura
ao dividir a mesa com
vocês.
Como também sei da sua
lágrima
e do seu vômito
de asco, ácido
e aço.

Quando tudo for além
do fóssil do vento
inevitavelmente estaremos juntos
numa canção de amor.

E quando tudo
bem mais fértil e ameno
se esclarecer
eu dançarei contigo
sobre as folhas
de outono.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

E é pra ela este poema

E enquanto a gente vai
dentro disso que a gente chama de amor
de Bandeira,
de Neruda
ou de uma música da Marisa Monte 
que aquela sua amiga 
disse que poderia ser a história de nós dois,
eu vou te abraçando de longe,
de marcha em marcha,
curva em curva,

enquanto você vai sendo canção 
no som do meu carro.

Soube bem baixinho que você
disse que eu sou legal,
cool,
hype
e cruzo as pernas de trago 
em trago.
Soube que você espera alguém 
legal,
talvez até como eu
e que quer assistir um filme
de conchinha no sofá da sala.

E enquanto a gente vai se conhecendo
as coisas seguem assim;
tão especiais.

Antes

Eu tenho tudo

teu passado
teu riso
e ritmo.

Fui eu que naquela
[madrugada]
te incendiei.
E isso é tudo.

Eu tenho a história

de nossa andanças
de nós
do que eu fui.

Com os pés
descalços
a gente era
muito
caminhando
no asfalto às duas
da manhã.

E você diz que tudo
bem.
Foi bom mas
passou.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Felicidade do Ipê

Se
tembro

eu

me
lembro

que uma hora
a chuva há de chegar.

M
olhar

Brasília

c
alar

a sede, a seca, o grito
e a prepotência

da úmidade do ar.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Estudos do luar


Vê o silêncio
tire dele
uma 
fotografia
põe na parede
estude
sua 
geografia.

Me puxe pra
dançar,

Margarida,

essa valsa de noite fria.

Fruta no pé

Pequena
pé que na
cidade
desenhou tua história
sabedoria de menina
delícia das amoras
intensa.

Pequena
pé que na
história
desdenhou a cidade
menina de sabedoria
amora de qualidade
imensa.

Tudo mais em suas folhas
troncos e raízes. 

Em meus olhos 
enlouquecidos
de te ler.

Tanta vertigem.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Claridade.

Enquanto eu brinco
nesse vazio de se feliz
aquele rio
deságua sua fúria
no mar.
Você mexe no
brinco
e eu respiro
toda essa sua loucura
no ar.

De frente um para o outro
a vida parece
mais amena
enquanto o rio vai pro mar
e a lua serpenteia
nessa noite
serena.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Desígnio

Vou
ar-
rombar tua casa
molestar o teu silêncio
te levar pro
quarto
te botar de
quatro
amar

enquanto é tempo.

Vou
ar-
ticular teu sonho
deixar rolar o ser
no teu
orgasmo e
comer
teu gemido escuro
claro

até você saber
que sim
é óbvio
que

eu amo você.

terça-feira, 6 de março de 2012

Comentário

Eu queria te dizer
que isso tudo é muito bonito,
o Madison, o Mickey,
Maiakovski e seus livros.

Eu queria te dizer
do MAZ, da cerveja, do vinho,
da música que te fiz
e de outras coisas sem sentido.

Mas nada disso me importa
quando tudo o que eu preciso
é ter na minha sacada
o sabor do seu sorriso.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Domingo


O telefone vibra
- Você tá em casa?

Olha, hoje eu tô assim,
não muito afim
de encher a cara.
Mas se quiser vir
e se entregar pra espantar o tédio,
estarei aqui,
te esperando na portaria do prédio.

Ouça,
minha vontade tem gosto de apreço,
desejo de te comer inteira,
te deixar louca, te virar do avesso.

Garota,
se realmente te interessa,
eu até tenho um vinho,
a gente pode beber com carinho,
antes de fazer amor.

Sem pressa.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Toda.




Vem depressa.
Vem sem medo.
Vem que eu ainda estou aqui.
Pronto.
Doido pra ser teu meio.

Vem que o infinito manso nos espera.
Vem enquanto é tempo de brincar de ser pra sempre.
Vem sem deixar pistas.
Toda.
Vem e se não houver amor, invente.

Vem pra ser aquilo que eu mais quero.
Minha leveza e inquietude.

Tempero, medo e a lua subindo.



De espelho,
A cara amarrotada.
Desespero:
A tua presença ainda brinca em mim.
São vários recomeços.
Várias entranhas.
E tudo caminha pra eu ir embora daqui.
No mais
A gente ainda se gosta.
Demais
E talvez até além da conta.
Tudo ainda te respira.
Tudo te trás.
E só o que sobrou pra nos fazer morrer de rir.