sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Café com rebú.

E você pensa nos girassóis
que mudam de lado
e quer mexer no cabelo
antes de tudo.
Chove a chuva que molha os sentidos
troca de rota e pede um café.

Pouco açúcar, por favor.

E você acredita no Wim Wenders
soprando vinte e quatro quadros
debaixo dos caracóis
do seu cabelo.
Acende um cigarro e sente o vento
que passa disfarçado.

Everything's gonna be alright.

E você sonha em segredo
com pássaros azuis
que vem sem vergonha
na sua janela.
Entretém o tempo com batuque
estragando o esmalte da unha.

Alguém já lhe disse pra ligar pra ele?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Borboleta

Vejo novamente as borboletas
e Glauber sair para apanhá-las
num golpe só.

Tenho outra vez a vida que o filme me levou

a arte concreta do intacto instante
e a incerteza do que o vento trouxe.

Vejo Dalí se ater às borboletas
e a conversar com Glauber
algo de Kandinsk

borboletas coloridas (tão coloridas!)

Nosso passado colonial
enfeita as arestas

enquanto alguém faz um brinde com cachaça.

Uma tulipa é beijada pela borboleta
que Glauber não pegou
-por delicadeza

o estranho momento que existe
ao presenciar o amor apaixonado
da borboleta

desafiando o cinema novo.

Daqui.

Eu tenho saudade de quem tá perto

do cafuné
de ler o velho Buck
abraçado

que saudade de quem tá longe
já tá bem fora de moda.

E sinto você como numa fisgada

o pescador sente o peixe
e se deixa levar
na linha

eu tenho saudade aqui do meu lado.